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E dá pra ter saúde mental no Brasil?

  • Foto do escritor: Fernanda Costa
    Fernanda Costa
  • há 2 minutos
  • 3 min de leitura
E dá pra ter saúde mental no Brasil?

Tem dias que a pergunta aparece sem nem ser chamada.

E ela não vem como dúvida. Vem como exaustão.


Porque a verdade é que ninguém está adoecendo sozinho. Não é você que está “sensível demais”. Não é você que “não sabe equilibrar a vida”. Não é você que precisa aprender a respirar, meditar, organizar, priorizar, otimizar. A gente está tentando sobreviver dentro de estruturas que pedem mais do que qualquer corpo consegue entregar.


E isso não é só brasileiro. É global.


Vivemos em sociedades que confundem produtividade com valor. Cidades que engolem tempo, silêncio, descanso, convívio. Rotinas que transformam pessoas em engrenagens. E crises que parecem não dar trégua: violência contra mulheres, desigualdade que cresce, sensação de insegurança constante, medo que não cabe no peito.


E dentro desse cenário já pesado, existe uma ferida que insiste em sangrar todos os dias: o feminicídio.


Não é exagero dizer que ser mulher, hoje, em qualquer lugar do mundo, é viver sabendo que a violência pode vir de quem deveria proteger, amar ou ao menos respeitar. Não é sobre casos isolados. É sobre uma cultura inteira que naturaliza a brutalidade, que transforma corpos femininos em alvo e depois ainda cobra que sigamos funcionando como se nada estivesse acontecendo.


Como é que se fala em saúde mental quando a própria existência é atravessada pelo medo? Quando o simples ato de voltar para casa vira um percurso de cálculo, alerta e tensão? Isso também adoece. Isso também pesa. Isso também faz parte da pergunta que ninguém quer responder.


Tem uma cobrança implícita para que cada pessoa cuide da própria saúde mental como se fosse uma ilha. Como se fosse possível florescer dentro de um chão rachado. Como se o autocuidado fosse suficiente para compensar jornadas longas, notícias duras e um mundo que parece sempre à beira do colapso.


E não é.


Porque saúde mental não depende só de escolhas individuais. Depende de ambiente. Depende de política pública. Depende de segurança, acesso, condições dignas, redes de apoio. Depende de um sistema que permite que as pessoas vivam e não apenas operem.


O mais cruel é que, mesmo assim, continuamos ouvindo que basta “tentar mais um pouco”. Que basta “pensar positivo”. Que basta “focar no que importa”. Enquanto isso, mulheres seguem morrendo, famílias seguem com medo, pessoas seguem exaustas sem saber onde descansar.

É como pedir para alguém nadar melhor enquanto o mar sobe.


O ponto é simples e doloroso: não dá para exigir saúde mental de uma sociedade que não cuida de gente.


Mas existe algo que ainda podemos fazer, e não tem nada a ver com “resolver sozinha”. Tem a ver com nomear. Com recusar a narrativa de culpa individual. Com entender que sentir cansaço diante de um mundo cansado não é erro. É consequência.


Quando a gente reconhece que o peso é coletivo, começa a surgir um outro tipo de força: não aquela da resistência solitária, mas a da consciência. Da indignação que se une. Da busca por ambientes mais humanos. Da recusa de normalizar aquilo que nos machuca.


Saúde mental não deveria ser luxo. Muito menos prova de desempenho.


E, sinceramente, não dá para continuar pedindo que cada pessoa se cure enquanto o sistema adoece todo mundo. Saúde mental não nasce em terra seca. E por mais que o mundo tente nos convencer do contrário, ninguém floresce sozinha.


Talvez o caminho esteja em reconhecer que não falta força nas pessoas.

Falta humanidade nas estruturas. O restante é consequência.

 
 
 
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